Visão sobre o dependente atrapalha a recuperação

Para o pesquisador Francis Moraes de Almeida, que é professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ciências Sociais da UFSM, psicólogo e doutor em Sociologia, um das grandes problemáticas envolvendo o crack é a estigmatização de seu usuário e da própria droga. Entre outros reflexos, a visão sobre o entorpecente pode até dificultar a procura de reabilitação.

O pesquisador ressalta que há um intenso alarmismo em cima do crack, como se ele fosse a causa de todos os males dentro da sociedade moderna. Isso, segundo o sociólogo, resulta naquilo que os norte-americanos chamam de "a profecia que cumpre a si mesma". Almeida argumenta que isso pode ser facilmente percebido em propagandas, campanhas e em conversas com quem atua na rede de apoio aos dependentes químicos. Se o crack é considerado uma droga diferente das demais, o peso social atribuído a ela a acaba associando diretamente à criminalidade. 

_ Se o usuário mora em uma determinada comunidade e já foi diversas vezes abordado por crimes que alegava não ter cometido, pode acontecer de passar a cometê-los. Afinal, ele era responsabilizado de qualquer maneira. Acontece o mesmo que nos anos 20, quando a criminalidade nos Estados Unidos era associada ao consumo de álcool. Porém, a droga não determina comportamento. Ela tem efeitos e pode condicionar, mas não é determinante _ avalia Almeida.

O professor alerta ainda para os perigos da estigmatização do usuário. Para isso, ele usa o exemplo da associação do usuário de crack aos moradores de rua. Segundo o sociólogo, a pessoa é percebida como usuária da droga, mesmo não sendo, pois essas associações já estão presentes no imaginário e na expectativa da população. Isso faria com que a busca por ajuda, no caso daqueles que realmente são dependentes, seja deixada de lado.